domingo, 4 de maio de 2014

Crônica da carangueja

O @Acuio postou no face e eu vou colocar aqui. Porque isso é ser canceriana.
Crônica da carangueja esposa de Ló.
*Por Priscila Merizzio.
Nem era amor o que foi embora. Era projeção pautada em idealizações internas irrealizáveis. Quis resolver as paixões conturbadas do passado em sua existência. Joguei sobre suas costelas responsabilidades que não eram suas –– nem de pessoa qualquer. Um vazio preenchido com outro vazio. Tropecei no buraco negro de alguma galáxia. Descobri que o sentimento que criei por você existe sozinho, então, renasço-o secretamente em algumas madrugadas. É fácil. Como a criança que se concentra com força e brinca com seus amigos imaginários. O céu é um espelho. A luneta é meu olho mágico. Olho para cima como se estivesse com portáteis projetores de fotografias antigos, daqueles que eram vendidos durante os espetáculos de circo. O ritual é esse, portanto: olho para cima e para trás Ad infinitum. A algazarra das crianças e jantares de família tira-me de minha concentração simbolista. Quero quebrar as luzes dos postes públicos da cidade. Quero caminhar no escuro, sozinha, em alguma avenida agora deserta. Quero entornar uma garrafa de vodca e dormir embolada com os cachorros de rua. Manchar a grama com o delineador que tenta imitar (de forma decante) as maquiagens de Françoise Hardy. Quero que um estranho me acorde e me leve até seu apartamento aquecido. Quero que ele me dê banho e me coloque para dormir. A princesinha do papai. Como Blanche Dubois, quero acreditar na bondade de estranhos. No entanto, desconfio de tudo. A carência e o fracasso maltratam minha ossatura coberta por carnes humanas desnecessárias.

Nenhum comentário: