terça-feira, 27 de setembro de 2011

Aversão

Minha amiga Aninha quase perdeu a visão. Teve uma série de problemas, cirurgia de emergência. Teve que adiar o casamento marcado. Quando a coisa estava se reordenando, o noivo terminou o relacionamento, sem grandes explicações. De todo drama vivido, ficou grudada na minha mente uma frase que ela disse:

- O que será que eu não estava vendo?

Nunca me esqueci disso. Ela acreditava firmemente que a cegueira física dela estava associada a alguma cegueira subconsciente. Quando ela começou a ver as coisas, começou a resolver a vida dela. Matando dois coelhos com uma cajadada só, ela ainda reformulou seu trabalho para algo mais prazeiroso. Grande Aninha.

O fato é que não suporto mais fazer uma certa tarefa do meu trabalho. Antes eu não gostava. Hoje não dá mais. Simplesmente. Preciso fazer um relatório há 15 dias. Cada dia arrumo uma desculpa para não fazer. Não consigo. Sento e começo a fazer outra coisa. Até louça eu lavei. Enrolo nas redes sociais. Faço esse post aqui. Deito na cama e rolo de culpa. Mas é incrível: todos os poros do meu corpo rejeitam isso. Meu olho dói. Meu pescoço não vira. Minha tendinite me impede de digitar. Impressionante. Estou como minha amiga Aninha: ficando cega, torta, deficiente da mão. Tudo porque não quero admitir que não aguento mais fazer isso. Ou admito, mas não consigo achar uma solução e passar essa bucha para frente.


Preciso me libertar. Juro que vou cuidar disso.

domingo, 25 de setembro de 2011

Mundo limitado

Tem uma coisa que nunca falei aqui. Fui pesquisar para ter certeza, e vi que citei muito por cima, então não conta. Eu fiz redução de estômago em 2006. Fiz dieta líquida, pastosa, tomei vitaminas. Emagreci 60 quilos. (e não pense você que fiquei magérrima com 60 quilos a menos, ainda faltava um bom caminho). Um casamento terminado e a perda de uma mãe depois, recuperei 20 quilos. Mas talvez essas coisas sejam só desculpas, sei exatamente onde errei. Onde saí do caminho. Caminho para o qual tento voltar até hoje. Mas vamos que vamos.

Mas se tem uma ilusão que nunca tive foi que a magreza/obesidade traz felicidade/infelicidade. Muitas pessoas gordas vivem a certeza de que o dia que forem magras serão felizes. Como se gente magra não ficasse doente, levasse pé na bunda, fosse traída, perdesse emprego. É pessoa como qualquer outra, e as coisas acontecem. E a pessoa acha que TUDO na vida se resume à sua condição física.

Ontem fui numa palestra, e sentou uma mulher ao meu lado. Começamos a conversar, e ela olhou para a Coca Zero em cima da mesa e disse: "dava tudo para beber essa coca". Perguntei se ela tinha feito promessa ou algo parecido. Ela respondeu que não, que tinha reduzido o estômago e não podia beber coca. Perguntei quanto tempo tinha de operada (porque realmente nos primeiros meses não pode refrigerante), ela respondeu QUATRO ANOS. Juro, minha vontade era esbofetear a pessoa e mandar ela virar o disco, mudar de assunto, parar de frescura, lavar louça, qualquer coisa. E quando eu achei que não podia piorar, ela disse que só bebia refrigerante quando misturava água, para aplacar o gás. Que nojo! Fiquei quieta e não disse que também era gastroplastizada. Não tinha intenção alguma de trocar figurinha com gente descompensada.

Quando eu deletei meu orkut, perdi contato com muita gente que conheci da gastroplastia. Pois esse povo todo está me achando no Facebook. Aceitei uma delas esses dias. Na época, ela tinha emagrecido bastante, tinha aparecido em revista e programas de tv, dando testemunhos da "oitava maravilha do mundo" que é a cirurgia bariátrica. Quando vou olhar o Facebook da mulher, adivinha o que ela estava falando?? que tinha acabado de dar uma entrevista para a Tv Gazeta sobre gastroplastia, para todos assistirem, etc e tal. Fiquei olhando, incrédula. Cinco anos se passaram, e a PESSOA ESTÁ FALANDO SOBRE A MESMA COISA. Não arrumou um emprego, não teve filho, não fez uma faculdade, não fez trabalho voluntário. Nada. Nada de novo. Como que aguenta falar a mesma coisa por tanto tempo? Não tem outros sonhos, outros objetivos? Não é possível que sua única meta de vida seja ser magra. É muita limitação, meu Deus!


Juro. Tenho minha vaidade. Mas gosto de pensar que, além do meu corpo, sou meus sonhos, meus planos, meu trabalho, meus amigos, minha família, minhas viagens, tanta coisa... tanta coisa nesse mundo para se ficar num assunto só!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Se prepara, Patrick!

- Quando você morrer, Mara, eu já terei partido. Para você me encontrar lá do outro lado, vai ser bem simples: estarei na mesma região que o Patrick Swayze.

Vânia, a minha guru querida e amada, sempre falou isso. Sempre achei graça. Porque só uma pessoa tão bonita, tão cheia de vida, de bom humor, de alegria de viver, sabia falar disso. Ela reconstruiu a vida após a morte do filho, do marido. Aos 65 anos de idade, ainda conseguiu encontrar um novo amor. E desfrutou dele como se fosse uma adolescente.

É por essas e outras que ela é minha guru. Sempre mensagens de otimismo, de superação. E ela ainda conseguiu enrolar esse câncer por 4 anos. E enquanto a gente ficava incrédulo, ela nos preparava para sua partida. Mas essa partida está muito próxima agora. Hoje ela vai fazer um procedimento, e será colocada em coma. E desse coma não vai sair mais.

A gente se engana demais com esse negócio de morte. Quando minha mãe faleceu, do nada, a gente entrou em choque, e pensou: "se estivesse doente, a gente se preparava". Nada. Vaninha nos preparou a vida inteira, e não tem preparo para esse aperto no coração. Só consigo pensar no quanto eu queria entrar no quarto dela por um minuto, dar um beijo e dizer que a amo.

Minha guru, minha amiga, minha "ídola": chega de sofrer, você não merece. Patrick, manda essa luz para minha Vaninha, e se prepara, que o céu vai ficar bem divertido!!





Update das 01:09 do dia 16/09: Vaninha finalmente descansou... Fica com Deus, meu amor!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

#telefonema da depressão

Estranho. Sempre ouvi pessoas se queixarem de que, ao contarem alguma coisa ruim para uma pessoa negativa, essa pessoa sempre tinha doença pior, emprego pior, filho pior, cabelo pior. Parece competição de infelicidade. Opa, não quero. 

 Mas estes dias, deliberadamente, fiz exatamente isso. Falei com uma pessoa que não falava há uns tempos, e perguntei como ela estava. Levou 5 minutos contando todas as doenças, coceiras, dores e infortúnios dessa vida. Fiquei ouvindo ali, meio passada. Não sobrava espaço para falar de mim. E eu queria falar das boas novas que o astrólogo me disse na última consulta. Queria falar que minha amiga comprou um apartamento lindo. Que uma outra amiga está em estágio terminal de câncer e estou sofrendo com isso. Que eu respondi meus emails e fiquei mais leve. Que eu vou para Paris daqui um mês. Que minha irmã foi finalmente fazer o safari na África que ela sonha desde os 5 anos de idade. Que eu comi num restaurante novo e adorei. Foi tanto balde de água fria que só consegui dizer: 

- É. minhas erupções de pele por causa do stress estão com tudo.